quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O triste caso da bela e trágica Inês de Castro


“As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que ainda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.”
(Os Lusíadas - Estrofe 135)
           O amor. Ah! O amor. “Que seja imortal”, que dure ou não, que seja tarde ou cedo, que belo sentimento, cantado em músicas, prosas e versos, arrebatamento e enlace, matéria prima dos sonhos dos poetas que em lirismo arrebatador o cantam e endeusam.
         Mas existe um amor não menos belo, ou talvez, muito mais belo por não ter a possibilidade de acontecer, esse amor que nasce de dois corações apaixonados, mas morrem sem o doce consolo de sua plenitude.
         A literatura é povoada desses trágicos casais, da mitologia grega, com Tristão e Isolda a Shakespeare com Romeu e Julieta, tratam do amor impossível de ser realizado, seja pelo destino traçado pelos deuses ou intervenção dos pais, trazendo um desfecho funesto em ambos os casos.
Porém um dos mais belos casos na literatura é a empolgante história do amor impossível, entre o príncipe D. Pedro e a dama de companhia Inês de Castro, relatado soberanamente em Os Lusíadas, de Luís de Camões.
O poeta português, autor da façanha heróica de compor uma das obras mais belas já escrita, tratando das conquistas marítimas portuguesas, mas, não se atendo apenas aos feitos e realizações frutos das viagens de Vasco da Gama, vai além, trilhando caminhos diversos e numa dessas trilhas, envereda pelas sendas das relações amorosas entre Pedro e Inês.
O episódio está contido no Canto III – versos 118-36 - da epopéia camoniana, ao contá-lo, Camões expressa todo seu lirismo, narrando a história daquela que “depois de morta foi rainha”.
Dama da corte portuguesa, amante do príncipe herdeiro que viria a ser rei com o titulo de D. Pedro I, Inês de Castro foi assassinada por motivos políticos.
Filha ilegítima de um nobre da Galícia, Inês de Castro nasceu por volta de 1323, em Castela. Em 1340, foi para Portugal como dama de honra de D. Constança, filha do infante espanhol D. Juan Manuel, quando esta se casou com o príncipe D. Pedro, filho do rei de Portugal, D. Afonso IV.
Com a morte de Constança, em 1345, e apesar da oposição do rei, D. Pedro casou-se secretamente com Inês. O casal teve quatro filhos e, a existência dessas crianças e mais a presença em Portugal de Alfonso e Fernando, irmãos de Inês, provocaram intrigas na corte, além de alimentar a suspeita do rei, que temia pelos direitos sucessórios de seu neto Fernando, filho de Constança.
Em janeiro de 1355, na ausência de Pedro, conspiradores prenderam Inês em Coimbra. O rei ignorou seus apelos e ordenou sua execução, para a qual Inês se entrega como uma flor, como fica evidenciado na estrofe 134:
“Assim como a bonina que cortada
Antes do tempo foi cândida e bela,
Sendo das mãos lascivas maltratadas
Da menina que a trouxe na capela,(...)”


Em 1357, Pedro subiu ao trono e desencadeou sua vingança. Executou pessoalmente os matadores de sua amada e ordenou que os restos mortais de Inês fossem transportados do mosteiro de Santa Clara para Alcobaça, com pompas reais. Conta a lenda que, na cerimônia de sua coroação, D. Pedro mandou que se vestisse os restos mortais de Inês com finíssimos trajes, corou-a rainha e fez toda a corte beijar sua mão.
Camões apresenta nesse episódio de sua obra o amor que no início era cortês do período medieval, como pode-se ver nos versos da estrofe 119, sendo esse o ponto alto do lirismo inserido no épico do restante da obra.
 
“Tu só, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,(...)”
O amor é personificado e as metáforas são usadas para mostrar os sacrifícios e as provações aos quais os amantes enfrentaram tudo em versos elegantes que são usados para este fim, onde tudo contribui para a intensidade do amor. Tornando um caso amoroso numa grande epopéia de amor que não tem a chance de se realizar.
Nesse drama do amor irrealizado, do amor que mata, pois contrariando a tudo e a todos só pode ser realizado com a morte, podendo até mesmo transcendê-la, pois, apesar de sobreviver, o mundo de D. Pedro, como fica evidenciado, termina com a morte de sua linda Inês. E assim fica evidente que  a morte moral, a morte dos sentimentos e dos sonhos pode ser considerada, talvez, bem mais radical e definida que a morte física.
Camões nos leva a uma profunda reflexão sobre sentimentos e por que não, sobre beleza, a beleza trágica de um amor tão grande que nem a separação física pode apagar. Assim como as grandes tragédias de amor dos algozes nem se tem noticias, mas o amor é eterno, a história desse casal apaixonado mostra que nunca houve amor tão triste e maior como o de Pedro e de sua amada e infeliz Inês de Castro. 

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