quarta-feira, 28 de março de 2012

O DECÁLOGO, DE KIÉSLOWSKI, NESTE SÁBADO. ENTRADA GRATUITA!



O Tela Tudo Clube de Cinema exibe neste sábado (31) os episódios I e X do DECÁLOGO, série televisiva do cineasta polonês Krzysztof Kiéslowski. Baseada nos dez mandamentos bíblicos e premiada em inúmeros festivais de cinema, a obra é um desafio para críticos pelos questionamentos que suscita nas diversas áreas do conhecimento humano. Seu eco é atemporal porque seu objeto é o homem. A sessão acontece às 14h30min, no Cine SESI Pajuçara. A entrada é gratuita.

No episódio I, um menino se questiona entre a visão racional e científica do pai e a crença religiosa de uma tia, enquanto calcula respostas para problemas cotidianos em um computador. No episódio X, dois irmãos afastados são obrigados a tomar medidas de segurança para proteger a inesperada herança do pai, um colecionador de selos que em vida mal se dedicou a família, mas construiu obsessivamente uma grande fortuna.

/Texto-convite

Um homem corre sobre o gelo, pára em frente a um edifício de concreto e olha para cima. A fachada, em forma de cruz, o engole apontando suas linhas para o infinito. Em um andar mais alto, uma luz azulada vaza até ser consumida pela noite. O homem tira uma lupa do bolso e olha para o relógio no pulso através dela. Uma mão toca seu ombro, os apartamentos se acendem - ele olha para dentro.

Em o Decálogo (1988), de Krzysztof Kiéslowski, um conjunto habitacional na Varsóvia (Polônia) é o espaço simbólico para uma jornada pelo comportamento humano e seus dilemas cotidianos mais profundos. Em uma livre adaptação dos dez mandamentos do Velho Testamento, a série de dez médias-metragens para a TV polonesa é uma obra densa e tão magnetizante que atingiu o lugar de obra-prima do cinema. De tão funda, se simplifica, de tão simples, se alarga.

Se cada um dos filmes fosse uma carta, poderíamos enxergar todo o baralho ao retirar em desordem qualquer uma delas. A quantidade e o volume de suas camadas mais produzem questões, invariavelmente desconcertantes, do que nos dão qualquer tipo de resposta. A nós e a seus personagens, a nós, seus personagens, certeiramente, assim como o homem misterioso onisciente que aparece em todos os dez filmes e nos suga para dentro da narrativa olhando para câmera no início do episódio I. O homem com olhos de abismo.

Originalmente, os filmes não receberam os nomes dos mandamentos, sendo os episódios identificados apenas por um número em algarismo romano. Assim como o edifício (o todo) e seus andares (as partes) são sempre uma referência ao fundo de qualquer plano exterior, somos conduzidos em uma ordem desordenada por todos eles, pois o que se vê, de fato, é o transpassamento das questões morais levantadas pelas dez palavras de Deus (Decálogo) e seu revezamento na linha de frente das narrativas alegóricas. Essa insistência, ou a persistência inteligente, se suaviza na acertada decisão de Kiéslowski em eleger diferentes miradas para a fotografia, pois cada episódio é assinado por um diretor.

As parábolas são contraditoriamente precisas para o conteúdo agnóstico da poesia de Kiéslowski. Característica já usada até mesmo com tom de acusação contra o cineasta, mas que deveria soar em consonância, pois parece sair daí o seu melhor cinema. Um cinema de confrontação, antes de tudo. O seu agnosticismo, ou o como quer que chamemos o escuro da sua abordagem metafísica, é sinceramente humano. Não acredita nem descrê, não nega a possibilidade.

Do princípio (alfa), o Decálogo I, somos atirados ao fim (ômega), o décimo. Entre eles, o abismo e suas pedras. Amor, ódio, ciúme, cobiça, inveja, a traição, o roubo, a desconfiança, a fé, a solidão, a amizade, o pressentimento, o desnorteamento orientado do acaso. O homem e suas falhas, suas destruições belamente construídas, a mesma fonte de onde saltam qualidades e defeitos, como a grama verde que nasce no meio do lodo na primeira imagem de toda a série.

No último episódio, as mãos estendidas para o ceú do irmão mais novo nos remetem ao número dez e aos braços infantis do menino do primeiro filme. Amarás a Deus sobre todas as coisas se une a Não cobiçarás coisas alheias. Por um momento, os dois irmãos sentem-se crianças novamente e pensam não ter problema algum. É que os homens precisam de tempo, mas este, naturalmente, não é uma garantia.

Tela Tudo Clube de Cinema convida para a exibição dos episódios I e X do Decálogo ou, universalmente, dos defeitos que sustentam o nosso edifício.

Outros filmes do diretor: http://www.imdb.pt/name/nm0001425/

/ ALFA E ÔMEGA: O DECÁLOGO (episódios I e X), de Krzysztof Kiéslowski
1989, 104 min, Polônia

QUANDO: 31 de março de 2012, SÁBADO, às 14h30min
ONDE: Cine SESI Pajuçara
ENTRADA GRATUITA
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 anos

REALIZAÇÃO
Tela Tudo Clube de Cinema

PARCERIA
Centro Cultural SESI

/créditos
Cartaz, banner e visual do site: Flora Paim
Texto-convite e edição de informações: Lis Paim

O TELA TUDO CLUBE DE CINEMA É FILIADO AO CONSELHO NACIONAL DE CINECLUBES BRASILEIROS. CINEMA É CULTURA.

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