segunda-feira, 19 de março de 2012

Amar de amor, amor de amor - Lupe Cotrin




Em mim sonhas um mar, um horizonte murmuravas. Ao ver-me rio e vento sabes que ao ser apenas lago e fonte és imóvel, e sou teu movimento. E sonhei mais. Que em volta do teu rio fosse eu contorno e no teu vento eu fosse a flexível resposta de um navio saciando essa procura que te trouxe. E sonhei mais ainda, pois sonhei também que me sonhavas. Descobri que nem mesmo sonhaste o que te amei.
Na manhã do teu rio em que me apago ficaram, desse sonho onde vivi, as águas tristes que não foram lago.
Que o amor assim perdido se conforme e renasça na forma de outro amor, embora sem ser meu. Que se transforme num sorriso distante desta dor. Que as mãos, assim crispadas pelo sonho, repousem finalmente na verdade aceita e compreendida em que disponho os limites da estreita realidade. Que o rumo onde te amava e me perdia em tristeza tão grande não incorra sobrevivendo a altura em que eu vivia. Que poesia e não lágrimas escorra dos meus olhos. No sonho já desperto seja água a responder ao teu deserto.
Pouco sabes de mim. Hoje percebo que o segredo mais puro do que sou vos é desconhecido. É um arremedo apenas do que sinto o que vos dou. Se é receio vos largar o coração, talvéz eu tema. Sei o que é silêncio, a magia de compor a solidão uma outra vez. E sei que não convenço vossa distância em minha entrega. Perto ou longe, sois limite próprio. Surda é em vós essa paixão em que desperto um arrepio que vossa paz perturba. E intensa me contenho e mais não faço para atrair-vos ao céu que vos disfaço.
Tudo acabou, bem sei, mas não importa. Não é só de futuro que amor vive. O tempo em que se amou não mais se corta de nós; ainda sou muito do que tive. Nessa entrega também me pertenci. Tive dois corpos, duas almas, em braços mais longos envolvi o mundo. Nasci de nós, por isso levo-te em meus traços. Não pesa que a verdade foi momento, a presença tão breve e o desconexo desse sonho. Restou-me o sentimento em que de novo te surpreendo em mim. E o que foi belo, imóvel num reflexo me enriqueceu de haver amado assim.


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