Pouco antes da metade dos anos 80, mais precisamente no dia 2 de março de 1983,
o Brasil perdia uma das suas melhores interpretes de todos os tempos. Mineira de
Paraopebas, (esse distrito virou cidade e foi emancipado com o nome de
Caetanópolis). Clara Nunes, dona de uma voz doce e potente, se submeteu a uma
aparentemente simples cirurgia de varizes, mas a cantora acabou tendo uma reação
alérgica a um componente do anestésico. Clara sofreu uma parada cardíaca e
permaneceu durante 28 dias internada na UTI da Clínica São Vicente, no Rio de
Janeiro. Neste meio tempo, a cantora foi vítima de uma série de especulações que
circulavam na mídia sobre sua internação, como "inseminação artificial, aborto,
tentativa de suicídio e ate mesmo uma, surra de seu marido Paulo César
Pinheiro". A poucos meses de completar 40 anos, na madrugada do sábado de
Aleluia de 2 de abril de 1983, Clara Francisca Gonçalves Pinheiro (nome de
batismo de Clara Nunes) entrou oficialmente em óbito, vítima de um choque
anafilático. Uma sindicância aberta pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de
Janeiro na época acabou sendo arquivada, o que geraria por muitos anos suspeitas
sobre as causas da morte da cantora. O corpo da cantora foi velado por mais de
50 mil pessoas na quadra da escola de samba Portela. O sepultamento no Cemitério
São João Batista foi acompanhado por uma multidão de fãs e amigos.
Em sua
homenagem, a rua em Madureira onde fica a sede da Portela, sua escola de
coração, recebeu seu nome. Ícone do samba, quando criança, em Paraopebas,
cantava ladainhas em latim no coro da igreja. Cresceu ouvindo Carmem Costa,
Ângela Maria e, principalmente, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, das quais
sempre teve muita influência, Mudou para Belo Horizonte onde trabalhou como
tecelã durante o dia estudava à noite e aos finais de semana, participava dos
ensaios do Coral Renascença, na igreja do bairro onde morava quando conheceu o
violonista Jadir Ambrósio que, admirado com a voz da jovem de 16 anos, a leva a
vários programas de rádio. Em 1960, já com o nome de Clara Nunes e ainda como
tecelã, ela venceu a etapa mineira do concurso "A Voz de Ouro ABC", indo para a
final nacional do concurso realizada em São Paulo, obtendo o terceiro lugar. A
partir daí, Clara Nunes começou a cantar na Rádio Inconfidência de Belo
Horizonte e durante três anos seguidos foi considerada a melhor cantora de
Minas. Ela também passou a se apresentar como crooner em clubes e boates na
capital mineira, trabalhando com o então baixista Milton Nascimento (que na
época era conhecido como Bituca.) Foi quando fez sua primeira apresentação na
TV, no programa de Hebe Camargo em Belo Horizonte.
Em 1963, ganhou um programa
exclusivo na TV Itacolomi, chamado "Clara Nunes Apresenta" e exibido por um ano
e meio. No programa se apresentavam artistas de reconhecimento nacional, entre
os quais Altemar Dutra e Ângela Maria.[ Viveu em Belo Horizonte até 1965, quando
se mudou para o Rio de Janeiro. Se apresentava em vários programas de TV, como
José Messias, Chacrinha, Almoço com as Estrelas e Programa de Jair do
Taumaturgo, cantando especialmente boleros. Gravou em 1965 sua primeira faixa
num disco com outros artistas do casting da Odeon, No ano seguinte, Clara foi
contratada por esta gravadora (a primeira e a única em toda a sua vida). Naquele
mesmo ano, foi lançado o primeiro LP oficial da cantora, "A Voz Adorável de
Clara Nunes". Por insistência da gravadora para que ela interpretasse músicas
românticas, apresentou neste álbum um repertório de boleros e sambas-canções,
mas o LP foi um fracasso comercial. Em 1968, Clara Nunes gravou "Você Passa e Eu
Acho Graça", seu segundo disco na carreira e o primeiro onde cantaria sambas. A
faixa-título foi seu primeiro grande sucesso. No ano seguinte, lançou "A Beleza
Que Canta", LP no qual a cantora interpretou "Casinha Pequena". Ainda em 1969,
Clara Nunes ganhou o primeiro lugar no "I Festival da Canção Jovem de Três Rios"
com a música "Pra Que Obedecer" e ainda classificou a canção "Encontro" na
terceira colocação. Ficou em oitavo lugar no "IV Festival Internacional da
Canção Popular" com a música "Ave Maria do Retirante", que foi lançada naquele
mesmo ano em disco homônino. Em 1971 a cantora gravou seu quarto LP, no qual
interpretou "É Baiana", música que obteve considerável sucesso no carnaval, e
"Ilu Ayê", samba-enredo da Portela. Na capa do álbum, a cantora mineira fez um
permanente nos cabelos pintados de vermelho e passou a partir daí a se vestir
com roupas que remetiam às religiões afro-brasileiras.
Em 1972, Clara se firmou
como cantora de samba com o lançamento do álbum "Clara Clarice Clara". Com
arranjos e orquestrações domaestro Lindolfo Gaya e com músicos como o violonista
Jorge da Portela e Carlinhos do Cavaco, o disco teve como grandes destaques as
canções "Seca do Nordeste" (um samba-enredo da escola de samba Tupi de Brás de
Pina), "Morena do Mar","Vendedor de Caranguejo", "Tributo aos Orixás" e a
faixa-título "Clara Clarice Clara". A Odeon lançou em 1973 o disco "Clara
Nunes". Ainda hoje, sua voz, seu estilo e seu carisma são reverenciados por quem
é realmente apaixonado pelo nosso samba bem brasileiro.
Obras de Clara Nunes
1966 - A Voz Adorável de Clara Nunes
1968 - Você Passa e Eu Acho Graça
1969 - A Beleza Que Canta
1971 - Clara Nunes
1972 - Clara Clarice Clara
1973 - Clara Nunes
1974 - Brasileiro Profissão Esperança
1974 - Alvorecer
1975 - Claridade
1976 - Canto das Três Raças
1977 - As Forças da Natureza
1978 - Guerreira
1979 - Esperança
1980 - Brasil Mestiço
1981 - Clara
1982 - Nação
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